sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Entrevista com o Reitor da UENP, Dom Fernando José Penteado


O Jornal Diálogos Sem Fronteiras entrevistou o atual Reitor da Universidade Estadual do Norte do Paraná, Dom Fernando José Penteado. Nesta entrevista ele um conta um pouco de sua história e da luta para criação da UENP, bem como as expectativas sobre o futuro da mais nova universidade do Paraná.

Para começar qual a sua formação, conte um pouco da história da sua vida.

Dom Fernando: Minha vida é muito simples, nasci numa família que tenho mais dois irmãos, papai trabalhavam também e faleceu logo quando eu tinha meus noves anos, em 42. Depois, senti fui para o seminário. Ordenei-me sacerdote no dia 8 de dezembro de 1960, sou padre a 49. Em meus primeiros quatro anos fui professor no seminário onde havia estudado. Ali lecionei história e português por quatro anos. Minha vontade era cuidar das paróquias. Fui nomeado então para ser primeiro vigário numa paróquia bem simples, vizinha do aeroporto e lá fiquei nove anos. Depois fui para uma outra paróquia, na área de Santo Amaro, ali fiquei três anos e fui nomeado Bispo auxiliar de São Paulo em 1979. Nesse ano D. Paulo Evaristo Arns era Cardeal. Eu fui bispo auxiliar de São Paulo 19 anos, 10 anos fiquei em Campo Limpo e depois os outros anos na Lapa. Em 2000 eu fui nomeado para Jacarezinho, estou contente aqui e terminando minha missão. Fiquei muito contente de poder ter vindo.

O senhor poderia fazer um histórico da criação da UENP?

Dom Fernando: Quando eu vim para Jacarezinho pedi a Deus assim que me ajudasse a ter um trabalho social e ajudar o desenvolvimento dessa região. Não havia passado um ano e o prefeito José Antônio, me convidou para uma reunião na AMUNORPI. Lá estava o Hermes Brandão e outros políticos que queriam criar uma comissão para lutar pela universidade. Nesta reunião me colocaram como coordenador dessa comissão. A AMUNORPI então ajudou muito nos 3 primeiros anos para que esse movimento. A primeira coisa era que esse desejo fosse conhecido, então começamos a fazer palestras e um dia todas as Igrejas ao meio-dia tocaram o sino, todas, em todos os municípios e fizeram uma manifestação pela Universidade e assim o trabalho foi crescendo. Com essa base, os prefeitos me levaram ate Curitiba para falar com o governador e falar também com o presidente da câmera e deputados estaduais sobre a necessidade dessa universidade com urgência. O governador era o Jaime Lerner que apoiava muito essa idéia. Isso foi encaminhado no final do mandato do Lerner e as faculdades daqui se prepararam para o dia que o governador veio a Jacarezinhoi para assinar a criação da Universidade Estadual do Norte Pioneiro. Mas ao mesmo tempo, em outros municípios do Paraná, houve uma reivindicação por uma Universidade, pois já haviam 11 faculdades isoladas que desejavam se transformar em universidade, pois universidade tem meios para conseguir recursos e pode atender mais alunos. O governo Estadual ficou confuso e no dia que o governado veio aqui, ao invés dele criar a Universidade Estadual do Norte Pioneiro ele criou a UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná), que foi uma surpresa para todos nós. Criou uma universidade com campus espalhados por todo o Paraná. A reitoria ficaria aqui em Jacarezinho e para nós isso foi uma decepção. Isso não vinha de encontro ao nosso desejo e nem ao desejo das outras faculdades. Essa universidade teve dois anos de duração e a reitora a Samia Saad fez todo o trabalho. Só que era muito mais difícil, pois conversava com diretores com pensamentos totalmente diversos e houve muita dificuldade. Com o novo governo o secretario de Ciência e Tecnologia, Aldair Rizzi, assumiu como o reitor dessa universidade, tirou a sede daqui de Jacarezinho. E com todas essas mudanças, esse processo da criação da UNESPAR ficou estagnado e o Rizzi afirmou que era inviável uma universidade assim. O melhor seria que as faculdades isoladas fossem anexadas às universidades existentes mais próximas. O governador Requião, no começo, era totalmente contrario a criação de uma universidade. Depois de uns dois anos mudou o secretario de Ciência e Tecnologia. A proposta também mudou e passou a ser a criação de uma universidade não só com as faculdades de Jacarezinho, mas sim agregar Bandeirantes e também Cornélio Procópio. Quando eu fui visitar Cornélio Procópio, percebi que os professores deram apoio total à idéia e isso fortaleceu o trabalho da universidade. Depois foi questão de força política. Hermas Brandão, que era presidente da Assembléia Legislativa, conseguiu que o governador criasse um decreto para nossa universidade em 28 de setembro de 2006. E como havia sido o coordenador da comissão de criação da universidade fui escolhido como reitor.

Em dois anos, os estatutos foram criados e em dezembro nosso governo credenciou de fato nossa universidade. Agora temos algumas tarefas como, por exemplo, a eleição para reitor. Creio que essa eleição deva acontecer daqui a quatro ou cinco meses.

Qual é o papel da Universidade, o que ela tem para oferecer para essa região e qual sua importância para o norte pioneiro?

Dom Fernando: Penso que você tocou num ponto essencial, porque não pode imaginar uma Universidade voltada só para o aluno, se for assim ela não tem função social. Teria então simplesmente a função de formar pessoas que vão somente nelas. A universidade tem que estar presente e atenta aos problemas do norte. Por isso foi uma alegria muito grande quando surgiu o edital “Universidade Sem Fronteiras”. A finalidade da Universidade Sem Fronteiras é colocar a Universidade a serviço da população e ir onde há um problema. E que o universitário, o professor e as pessoas interessadas se reúnam discutam e cresçam juntos. E que os problemas sociais tenham uma solução. Essa é a verdadeira função social da Universidade.